Tocava aquela rapidinha dos Stones.
— Eu adoro essa música — ela disse.
Era o ponto alto da festa; todos cantavam em uníssono. Olhei em volta, vi toda
aquela gente sem rosto, tive vontade de sumir, mas me sentei num canto e esperei
a vontade passar. Pensei na morte, no trabalho, no salário, na rotina, nos
horários, na política, nos problemas de casa, nos mendigos da rua, no cansaço
da vida. Acenderia um cigarro...
— O que está fazendo?
— Como assim?
— O que está fazendo aí sozinho?
Fiz cara de desentendido e dei de ombros exibindo o cigarro como desculpa.
— Vem — disse ela — vamos dançar!
— Eu não danço.
— Vamos! Por que está tão triste?
— Não estou triste.
— Tem certeza?
— Tenho. Só estou pensativo.
— E qual a diferença?
— Aproveite a festa, eu já vou.
— Vou ficar aqui até você se animar.
Dei de ombros outra vez, desisti do cigarro. Minha nossa! — pensei melhor
humorado — Não se pode mais ser solitário sozinho? Ergui os olhos e me deparei
com os seus esbugalhados, na esperança urgente de que eu terminasse de ser
chato antes do fim da festa. Encarei-os, vi como se apertavam à medida que
um sorriso aparecia, de modo que quanto mais largo sorria, mais apertados
ficavam. Assisti a esse acontecimento quatro ou cinco vezes ao longo de um
minuto e não sei por que, mas parecia música.
Levantei num salto preguiçoso e me juntei a ela. Encantei-me com os traços e
com os lábios, com os olhos apertados e o sorriso. Entre beijá-la e memorizá-la
eu aprendi-lhe a simetria.
Ainda me importava com a morte, com o trabalho, com tudo. Mas tocava Beatles,
ou coisa parecida, e a vontade de sumir passou. Eu olhei nos olhos dela e ri como
um idiota.
— Do que está rindo? — perguntou.
— Adoro essa música.
Muito bom!!! por alguns instantes me senti nesta festa, acompanhei o diálogo dos dois e junto com ele pude até ver as mudanças no olhar da bela moça!!!
ResponderExcluirvc é muito bom Thiago Gomes!!! Parabéns!!!
Obrigado, querida!
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