Nos encontramos pela terceira vez — não que eu esteja contando. — naquele lugar. Ela queria fotografar. Eu sempre estive interessado em passar mais tempo com ela. É gozado, porque a maioria das pessoas — não demora muito — me entedia. São raras as exceções, e raro, é decididamente o termo. Mas ela, Carol, parecia ter saído de um dos meus poemas. Olhá-la me impedia de desacreditar o meu próprio discurso; velho discurso de minha vida inteira o qual muitas vezes na falta de público fiz em silêncio a fim de não esquecer quem eu era.
— É aqui! — exclamou numa euforia injustificável quando avistou aquela árvore, como se encontrar a árvore significasse que havia escapatória do cenário odioso em que vivemos.
— Aham. — respondi admirado, tentando acompanhar o ritmo. Eu gosto das árvores, mas sou tão urbano que acho que eles deveriam servir café nos vagões de metrô.
Sou tão dramático e ela tão simples, parecia ter completado a paisagem com sua chegada. Parecia que a paisagem também a completava. Que merda eu estou fazendo aqui? Pensei. Pelo menos ela gostava da minha companhia; não o bastante para irmos à praia levando a casa numa sacola como na música do Amarante, mas era legal. O meu problema era querer que tudo fosse como na música do Amarante.
— Eu sou louca, não é?
— Ainda bem. — respondi.
Pegou o de que precisava e largou a bolsa num canto.
— Tira de longe.
Entregou-me a câmera. Recuei dois, três passos; e me dei conta. Ela era uma deusa. Eu me sentia tão ferrado que mal podia encará-la. Ora! Mas alguém precisava fazer isso! Ela teria que saber. Eu mesmo tiraria aquela foto, e um minuto mais tarde, lhe diria.
Trágico e cômico era que não soubesse de nada, que se sentisse inferior em meio a tanta gente vazia e incapaz de ser leal a qualquer coisa que não o próprio umbigo.
— Pronto. — disse eu.
— Ficou boa?
— Sim, claro.
Conferiu ela mesma.
— Nossa! Gostei!
Tinha um riso bobo estampado na cara, que surpreendentemente me fazia crer que estava se divertindo, embora eu fosse tão calado quanto o Chaplin e esquisito feito o Ozzy.
— Você é linda. — devo ter dito, ou pelo menos pensado em dizer.
Nada mais que isso. Sou provavelmente um desastre, contudo, falamos bobagem, andamos pela cidade, almoçamos juntos à tarde e mandamos a tristeza à merda. Também paramos um instante na Rua da Aurora, pela quarta vez. — Não que eu esteja contando.
Sorri "bobamente" a cada palavra. É incrível o jeito que brinca com elas! *-*
ResponderExcluirhaha, muito obrigado.
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ResponderExcluirEventualmente os deuses caminham entre mortais. Admiram-se com a beleza da simplicidade deles, misturam-se. O ser mortal é tão efêmero e raso, que por vezes age com mais liberdade, afinal não tem nada a perder e tudo a ganhar. A beleza da brevidade da vida mortal atrai os deuses de forma tão profunda, que por vezes os próprios deuses de apaixonam pelos mortais. Encantam-se e acabam se esquecendo de quem são: Deuses admirando mortais.
ResponderExcluirDeuses admirando mortais...!
ExcluirIsso. Não se inferiorize perante belezas efêmeras. Somos deuses, poeta, admirá-los é apenas um hobby, não se confunda.
ExcluirObrigado, poeta.
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