quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Musa

          Eu adorava vê-la; gostava de ouvi-la. Admirava o seu jeito de contar histórias e ficava escutando a tarde toda. À noite escrevia. E podia encontra-la sempre que quisesse através da minha escrita. Era a minha musa inspiradora.
      Adoro seus poemas  ela dizia.
     Passei a me sentir o máximo, mas com o passar do tempo, tudo se esclareceu. Ela não gostava de mim. Gostava dos meus poemas. Ironia dos diabos.
     Cada poema era como se fosse um menino de recado; especialmente aquele pequeno ­- que eu agora chamarei de Atílio, porque acordei com esse nome na cabeça. E afinal de contas, eu sou o escritor aqui.
     Tive de confessar quanto a amava, mas me faltou coragem. Então mandei recado. Mandei por Atílio. E ela apaixonou-se por ele, ignorando que era eu disfarçado. Porcaria de disfarce!
     Fui eu que escrevi o poema e posso muito bem desecrevê-lo se quiser. Não posso? Bobagem. Melhor seria torna-lo uma música. Mas quem cantaria essa droga? Começo a achar que nada disso faz sentido: musas e poemas e meninos de recado. Excentricidade minha.
     Ora bolas, todo mundo é excêntrico. Se não é o tempo todo, é de vez em quando, e dá no mesmo. Uns fazem tudo o que podem, outros planejam e morrem. Eu escrevo poemas, como um viciado.
     Em todo caso, melhor fazer as pazes com Atílio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário