Eu adorava vê-la; gostava de ouvi-la.
Admirava o seu jeito de contar histórias e ficava escutando a tarde toda. À
noite escrevia. E podia encontra-la sempre que quisesse através da minha
escrita. Era a minha musa inspiradora.
— Adoro seus poemas — ela dizia.
Passei a me sentir o máximo, mas com o passar do tempo, tudo se
esclareceu. Ela não gostava de mim. Gostava dos meus poemas. Ironia dos diabos.
Cada poema era como se fosse um menino de recado; especialmente aquele pequeno
- que eu agora chamarei de Atílio, porque acordei com esse nome na cabeça. E afinal
de contas, eu sou o escritor aqui.
Tive de confessar quanto a amava, mas me faltou coragem. Então mandei
recado. Mandei por Atílio. E ela apaixonou-se por ele, ignorando que era eu
disfarçado. Porcaria de disfarce!
Fui eu que escrevi o poema e posso muito bem desecrevê-lo se quiser. Não
posso? Bobagem. Melhor seria torna-lo uma música. Mas quem cantaria essa droga?
Começo a achar que nada disso faz sentido: musas e poemas e meninos de recado.
Excentricidade minha.
Ora bolas, todo mundo é excêntrico. Se não é o tempo todo, é de vez em
quando, e dá no mesmo. Uns fazem tudo o que podem, outros planejam e
morrem. Eu escrevo poemas, como um viciado.
Em todo caso, melhor fazer as pazes com Atílio.
Em todo caso, melhor fazer as pazes com Atílio.
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