sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Vinte

          Sexta-feira. Peguei o violão e uma garrafa de vinho, fui à praia e me sentei à sombra de um coqueiro para esperar o pôr-do-sol. Fazia um tempo esquisito; a lua mais parecia um pedaço de unha grudado num tapete cinza.
     Cantarolando, toquei umas de Chico, mas a nostalgia me pegou. Eram antigas no meu tempo de menino. E, puta merda. Já tenho vinte anos! Almejo viver trinta, portanto, restam dez para publicar pelo menos um romance e lançar dois ou três álbuns com todas essas que fiz para a mesma mulher.
     Os companheiros de escola sumiram como fumaça quando se apaga o fogo; poucos ainda me restam. Parecem satisfeitos com a vida que levam. Cada um fará seu próprio pé-de-meia conforme a vocação. Tudo certo.
     Algo me diz que logo chegará meu tempo, e passará como um ladrão levando toda a minha capacidade de desprovimento. Precisarei de mais trabalho, mais dinheiro, e de limites. Por enquanto me contento com o pôr-do-sol e uma garrafa de vinho. Ouço as ondas quebrando lá embaixo. O tempo passa tão depressa, penso.
     Essa vida, de tão breve, muitas vezes me parece fútil. Talvez seja mesmo fútil, tão fútil quanto esta garrafa que tenho na mão. O que farei quando acabar o vinho?
     Sei lá. Eu acho que vou querer viver cinquenta.

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