Sexta-feira. Peguei o violão e uma
garrafa de vinho, fui à praia e me sentei à sombra de um coqueiro para esperar
o pôr-do-sol. Fazia um tempo esquisito; a lua mais parecia um pedaço de unha
grudado num tapete cinza.
Cantarolando, toquei umas de Chico, mas a nostalgia me pegou. Eram
antigas no meu tempo de menino. E, puta merda. Já tenho vinte anos! Almejo
viver trinta, portanto, restam dez para publicar pelo menos um romance e lançar dois ou três
álbuns com todas essas que fiz para a mesma mulher.
Os companheiros de escola sumiram como fumaça quando se apaga o fogo;
poucos ainda me restam. Parecem satisfeitos com a vida que levam. Cada um fará
seu próprio pé-de-meia conforme a vocação. Tudo certo.
Algo me diz que logo chegará meu tempo, e passará como um ladrão levando
toda a minha capacidade de desprovimento. Precisarei de mais trabalho, mais
dinheiro, e de limites. Por enquanto me contento com o pôr-do-sol e uma garrafa
de vinho. Ouço as ondas quebrando lá embaixo. O tempo passa tão depressa, penso.
Essa vida, de tão breve, muitas vezes me parece fútil. Talvez seja mesmo
fútil, tão fútil quanto esta garrafa que tenho na mão. O que farei quando
acabar o vinho?
Sei lá. Eu acho que vou querer viver cinquenta.
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